Cidadão será multado, falta de planejamento é questionada
Em pleno 2025, após anos de estabilidade no abastecimento, Cordeirópolis vive um cenário alarmante: a partir de 1º de agosto, moradores poderão ser multados por lavar calçadas, quintais e veículos com água potável. A medida foi oficializada por decreto da prefeita Cristina Saad, com base no “estado de estiagem” — mas sem apresentar qualquer estudo técnico que justifique a decisão.
O que muda?
O decreto proíbe o uso de água potável para lavagem de:
- Veículos (exceto por empresas do ramo)
- Calçadas, garagens, passeios e quintais
Quem descumprir:
- 1ª vez: advertência
- Reincidência: multa do dobro da última conta
- Nova reincidência: triplo do valor da fatura
A fiscalização ficará por conta do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), com apoio do Pelotão Ambiental. Denúncias podem ser feitas via WhatsApp: (19) 99792-9183.
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Mas a pergunta que não cala: onde estão os dados que sustentam essa medida?
O decreto municipal não apresenta nenhuma análise técnica ou levantamento que comprove que o racionamento seja a única alternativa. A alegação gira em torno da estiagem e da represa inaugurada na gestão anterior — apontada como ineficiente e sem licença de operação — mas que, segundo dados apurados, já armazena cerca de 1,5 bilhão de litros de água. Então, por que essa água não está sendo utilizada de forma planejada?
O que mudou dos anos anteriores para 2025?
Nos anos anteriores, mesmo com chuvas escassas, não houve racionamento. O Portal Martello News procurou o ex-presidente do SAAE, que revelou que em março e abril (ainda na gestão anterior), estratégias preventivas de captação foram aplicadas — poupando água das represas principais ao utilizar as águas das chuvas, do córrego Ibicaba e das represas Santa Marina e Barro Preto.
Mas em 2025, durante o mesmo período de chuvas, a nova gestão não captou essas águas. Resultado: “secou o que não devia” e agora quem paga a conta é o povo.
Cavas abandonadas e bombas queimadas
Outro agravante revelado ao Martello News: as cavas, que sempre ajudaram em momentos de emergência, tiveram tubulações furtadas no início de 2025 e não foram restauradas. Além disso, uma das bombas a diesel da represa Santa Marina está queimada e não foi consertada até agora. A captação continua sendo feita, mas parte da estrutura segue comprometida.
Mais de R$ 70 milhões em investimentos jogados fora?
Nos últimos anos, a cidade investiu pesado em saneamento:
- Estação de Tratamento de Água (ETA): R$ 26 milhões
- Estação de Tratamento de Esgoto (ETE): R$ 21 milhões
- Nova represa: mais de R$ 25 milhões
E mesmo com tudo isso, a população volta a conviver com o medo da água acabar.
E o decreto? Multa o povo.
O cidadão que usar uma mangueira na garagem será multado. A justificativa é frágil e a sensação é de injustiça. O jogo de empurra começa: população contra população, denúncias, desconfiança e medo.
Privatização à vista?
Diante do cenário de instabilidade e medidas que penalizam diretamente o morador, voltaram à tona os rumores sobre uma possível privatização do SAAE. Estaria o decreto preparando o terreno para justificar a entrega do serviço à iniciativa privada?
E o racionamento resolve?
Especialistas ouvidos dizem que não.
Quem pode, armazena — e quem não tem estrutura fica sem água.
O que falta mesmo é gestão e planejamento