Indústrias cerâmicas brasileiras são atingidas pela tarifação de Trump e acendem alerta no Polo de Santa Gertrudes

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O setor cerâmico brasileiro enfrenta um dos seus maiores desafios da última década. A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar tarifas de 50% sobre a importação de revestimentos cerâmicos — medida que entrou em vigor após uma primeira taxação de 10% anunciada em abril e aumentada gradualmente — já provoca impactos significativos na produção nacional e ameaça diretamente a economia de regiões especializadas, como o Polo Cerâmico de Santa Gertrudes, responsável por boa parte das exportações do setor.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (Anfacer), divulgados pelo Valor Econômico, as vendas para os EUA devem cair até 80% neste ano. Em 2024, o mercado americano gerou cerca de US$ 95 milhões em receita para os fabricantes brasileiros. O recuo representa não apenas perda de faturamento, mas também risco de fechamento temporário de linhas de produção e demissões.

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O presidente da Anfacer, Sergio Wuaden, explica que o problema é ainda mais grave porque os fabricantes americanos atendem apenas 30% da demanda interna, sendo dependentes de importações — especialmente do Brasil e da Índia, ambos agora com a mesma tarifa de 50%. A tendência é que os consumidores americanos sintam aumento nos preços, enquanto indústrias exportadoras brasileiras enfrentam pedidos cancelados e incertezas sobre novos contratos.

 

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Wuaden, que também é diretor do grupo Lamosa no Brasil (marcas Roca Cerâmica e Incepa), afirma que a carteira de exportações para os EUA despencou desde abril. Uma das fábricas do grupo, em Campo Largo (PR), que tinha produção quase totalmente voltada ao mercado americano, pode ter apenas mais três meses de operação garantida sem cortes, mesmo com medidas como férias coletivas e possíveis demissões.

“Não há como direcionar rapidamente essa produção para outros mercados: os formatos e técnicas são específicos e a adaptação de maquinário levaria pelo menos um ano, com alto custo”, explica.

Empresas como a Dexco (Portinari e Ceusa) também preveem efeitos indiretos. A realocação de produtos antes enviados aos EUA para o mercado interno pode gerar uma pressão de preços no Brasil, acirrando a competição entre fabricantes. “É possível vermos ainda no terceiro trimestre alguma pressão de preço em revestimento”, afirmou o presidente da companhia, Raul Guaragna, em teleconferência.

Já a Portobello conta com um diferencial: desde 2023, mantém fábrica própria no Tennessee, resultado de um investimento de cerca de R$ 1 bilhão. Apesar de ainda depender parcialmente das exportações brasileiras para atender o mercado americano, a empresa vê a produção local como vantagem competitiva diante do novo cenário tarifário. O CEO John Suzuki calcula um período de “acomodação” de dois a três meses, com planos de expansão da unidade nos EUA até 2026.

Além da pressão das tarifas, o setor cerâmico brasileiro aponta outro entrave: o custo do gás natural. Segundo Wuaden, o insumo chega a ser cinco vezes mais caro no Brasil do que nos EUA e representa cerca de 30% do custo total de produção. A Anfacer defende que o governo federal adote medidas para baratear o insumo, de forma a reduzir a perda de competitividade frente aos concorrentes internacionais.

O Polo Cerâmico de Santa Gertrudes, um dos maiores do mundo, já monitora de perto o impacto da medida. A alta dependência de exportações para os EUA em algumas indústrias da região, somada à concorrência de países como Índia e México, pode gerar efeitos em cadeia, atingindo fornecedores, prestadores de serviço e trabalhadores especializados.

Enquanto negociações avançam entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Anfacer e a Tile Council of North America (TCNA) para tentar reverter ou amenizar as tarifas, o clima no setor é de cautela. “Não é possível manter um negócio viável por muito tempo com um acréscimo de 50% no preço final”, resume Wuaden.

 

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